1. NASCIMENTO E INFÂNCIA
Francisco (Soares) Calheiros nasceu em Itacoatiara, no dia 29 de novembro de 1968. Filho de Maria de Nazaré Soares Calheiros. Não conheceu pai, que se recusou a assumir a paternidade da criança. Aos dois anos de idade, aproximadamente, foi adotado pelos avós maternos, Pedro Calheiros Ramos (pescador, natural de Maués e radicado em Itacoatiara desde 1955) e Maria Soares Calheiros (funcionária da prefeitura do município). O local de nascimento foi a antiga maternidade, onde atualmente funciona a Secretaria de Produção Rural, na Avenida Parque.
Passou a sua infância, até os cinco anos de idade, no Bairro do Jauari, onde morava com os seus avós na Rua Estrada Stone, onde hoje fica a Casa Rolim. Esse cenário está muito presente em seus poemas, pois vários são os textos em que ele cita O Mercado Central, as Pedras, o Trapiche, a antiga fábrica Martins Melo, o barco de pescadores chamado Cai Nágua, o Mangueirão, a antiga Gethal e a já desativada Carolina, fábrica de compensado que funcionou por muitos anos, e onde o próprio autor trabalhou, já adolescente, quebrando pedras. Ele mesmo conta que ficava esperando seu avô voltar da pescaria, naquela ribanceira do Jauari, atrás do Posto Policial. No seu poema “Poema da Velha Estrada da minha infância”, escreve: “Que saudade daquela ribanceira/, a que ia esperar o meu avô/, um velho e cansado pescador/, que carregou no remo a vida inteira/, que me deu de comer e de beber/, que me ensinou a amar e a viver”.
Depois desse período, a família mudou-se para o Bairro Araújo Costa, bem em frente ao Mercado Municipal. Ali viveu, segundo já revelou, os melhores momentos da sua vida: a Avenida Guianas Brasileiras (atual Armindo Auzier), o Campo do Brasil, a Cacaia, o Seringal, pois na época ainda não havia o Bairro de Santo Antônio nem os outros que posteriormente foram sendo fundados, principalmente por pessoas provenientes de outros municípios. Seu primeiro colégio foi o Grupo Escolar Dr. Fernando Ellis Ribeiro, tendo sido Maria de Fátima Pantoja e a senhora Aurélia suas primeiras professoras. Estudou no Grupo Escolar Mendonça Furtado, Coronel Cruz, Luísa de Vasconcelos Dias, Colégio Nossa Senhora de Nazaré, e o antigo e Segundo Grau no Colégio Deputado Vital de Mendonça, até o segundo ano do atual Ensino Médio, tendo concluído seus estudos em Manaus. Em Itacoatiara, nas mais diversas séries, foram seus professores Tabajara, Socorro Rolim, Deusalina, Ireide, José Gama Filho, José Raimundo Lopes da Costa, Emanuel Altamor, Lázaro Cantuária, Marielza e tantos outros. Como aluno do Coronel Cruz, no primeiro ano do antigo Segundo Grau, fundou o Jornal “O Estudante”, com alguns colegas de classe. De caráter polêmico, o informativo produzido em máquina de datilografia criou tumulto no meio acadêmico. Escreveu vários artigos criticando a falta de segurança pública, as péssimas condições de ensino, tendo sido ameaçado, já no fim da Ditadura (1985), de prisão por um delegado de polícia. Frequentou a unidade do Instituto Estadual do Bem-Estar do Menor (Progente), passando a ser ofice-boy na agência da Caixa Econômica Federal, sendo promovido mais tarde ao posto de estagiário.
A partir desse período, aumenta no autor o pensamento de esquerda, sendo seus primeiros poemas inspirados em Victor Hugo, Thiago de Mello, Castro Alves e Ferreira Gullar. É também dessa época a conclusão de seu primeiro livro, só publicado dez anos depois, já morando em Manaus.
2. A IDA PARA MANAUS
Para o jovem Francisco, ficar em Itacoatiara era não realizar seu maior sonho: ser médico. Foi então que em 1986 passou a morar em Manaus, onde concluiu o ensino técnico em contabilidade no tradicional Colégio Sólon de Lucena. A experiência foi traumática. Sem ter onde morar, passou a viver de favor na casa de um tio, cuja esposa tratava o jovem escritor com indiferença, humilhando-o e desrespeitando-o na sua condição de menino pobre vindo do interior. O local em que passou a morar em Manaus foi no Bairro do Céu, atrás da quadra do Colégio Militar de Manaus, na casa de um advogado cedida ao seu tio. Por necessidades materiais, trabalhou como ajudante de pedreiro, limpador de terrenos, lavador de janelas e camelô. Esse último episódio está no seu poema “Diálogo de um interiorano. Esse foi um dos períodos mais sofridos vividos pelo futuro escritor. No Colégio Sólon de Lucena, embora o curso fosse de Contabilidade, somente lhe interessavam as disciplinas de ciências da saúde, pois sua missão era cursar a Faculdade de Medicina. Sem nenhum recurso financeiro e vivendo de “bico”, ia para o colégio a pé, percorrendo os quase dez quilômetros que separam a escola do centro da cidade, nas proximidades onde morava. Pensou várias vezes em desistir, mas a determinação foi mais forte, superou a pobreza e todos os obstáculos que o provocavam a parar e voltar ao interior. Do Bairro do Céu, levado por João Ferreira Monteiro, passou a morar também de “favor”, em um pequeno quarto de madeira, de propriedade de Lisboa Andrade, então funcionário da Embratel, no Bairro do Coroado. Era o ano de 1987, e estava concluindo o hoje Ensino Médio. Influenciado por Thiago de Mello, não se inscreveu no vestibular para Medicina, com grandes possibilidades de ser aprovado. Licenciatura Plena em Letras foi o curso escolhido. Nessa época, passou a trabalhar como datilógrafo em uma livraria da Rua Rui Barbosa, no centro de Manaus. Aprovado no vestibular para o curso de Letras da UA, atual Universidade Federal do Amazonas, iniciou o curso em 1988, graduando-se em 1993.
3. A CASA DA AQUILINO BARROS
Sua família mudou-se quando ele tinha 11 anos de idade para a Rua Aquilino Barros, nº 1376, no Bairro de Santa Luzia. Ali o poeta viveu até que se mudou para Manaus em 1986. Com a morte de seus avós e pais de criação, Pedro Calheiros, em 1996, e de Maria Soares, em 2003, o escritor comprou a propriedade dos demais herdeiros e está instalando o Centro Cultural Casa de Dona Sinoca, onde há cinco anos realiza um recital de Natal e pretende desenvolver um trabalho social, com biblioteca, palestras, cursos livres, pré-vestibular, artesanato e outras formas de participação da sociedade. A intenção é manter viva a memória de seus avós. Na política partidária, pelo PPS, nas eleições de 1996, disputou uma vaga para vereador na sua cidade natal e, nas eleições de 2006, pelo Partido Verde, uma vaga na Assembleia Legislativa do Estado, mas não obteve êxito em nenhuma das tentativas.
4. O MAGISTÉRIO
No 4º período do Curso de Letras, passa a ser professor contratado da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), no Colégio Antenor Sarmento Pessoa. Já formado, é aprovado em concurso público para a mesma secretaria e exerce o magistério em várias escolas da rede pública de ensino, como o Instituto de Educação do Amazonas, Colégio Benjamim Constant, Castelo Branco, Padre Pedro Gisland, Valdomiro Peres Lustosa, Elda Bitton Telles da Rocha. É dessa época, sua participação no sindicalismo, ajudando a coordenar inúmeras greves e a fazer manifestações contra os baixos salários pagos aos profissionais da educação. Também por concurso público, passa a ser professor da Secretaria Municipal de Educação (Semed). Não concordando com os baixos salários sempre pagos aos professores, abandona o magistério público, tendo ainda sido aprovado em concurso para professor do Colégio Militar de Manaus. Trabalhou em várias escolas e faculdades particulares de Manaus. Tornou-se muito conhecido como professor de cursos pré-vestibulares e ministrou aulas de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no antigo Curso Camões, Castro Alves, Objetivo, Padrão. Atualmente, exerce o magistério no Pré-Uni Vestibulares, Curso Equipol, Evolução, além de pertencer ao quadro docente do Centro Educacional Adalberto Valle. É especialista em Metodologia de Ensino Superior e produção de texto, além da metodologia hoje adotada no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Já colaborou com vários jornais em Manaus, escrevendo comentários e artigos envolvendo cultura, política e educação.
5. A FACULDADE DE DIREITO
Insatisfeito com o magistério, ingressa na Faculdade de Direito. Pretende abandonar o magistério, advogar e ser membro do Ministério Público ou seguir a magistratura. No futuro próximo, pretende voltar a residir em Itacoatiara, pois esse é um dos seus grandes sonhos. Participou de vários CONPOFAIs (concurso de poesia falada realizado pela Airma por ocasião do Fecani, tendo obtido o primeiro lugar, em 1989, com o poema “Homens que aplaudis o meu discurso) Em maio de 2009, com um grupo de intelectuais, entre os quais Frank Chaves (historiador), Auricélia Fernandes (poetisa) Esther Araújo (educadora), ajuda a fundar a Academia Itacoatiarense de Letras, tendo sido eleito seu primeiro presidente. Para o escritor, Itacoatiara vive pelo menos 40 anos de atraso na questão cultural, pois não existe uma política séria que incentive as mais diversas manifestações culturais do município.
6. A OBRA
Francisco Calheiros já publicou os seguintes livros: Provável Poesia (1996) e Canções de Novembro e algumas preces (2007) e tem ainda inéditos os livros Flores da Rua Aquilino (poesia), João Operário (romance) e Os Filhos de Serpa (romance). É mais conhecido como poeta do que como romancista. A temática de sua poesia é bem variada, mas destacam-se os temas que retratam a sua terra natal, os amigos, a família, a insistente busca pelo amor, a religiosidade, a tristeza, a melancolia, a esperança, o compromisso com o presente e a tentativa de construir o futuro, sem deixar de citar o engajamento social. Sua poesia tem muito de Thiago de Mello, Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira, seu autor preferido. Costuma dizer que como Manuel Bandeira teve a Rua da União, ele teve a Estrada Stone. Hoje seus poemas são conhecidos em vários estados brasileiros e são lidos em escolas, eventos e faculdades, além de serem citados como referência em várias obras e trabalhos universitários.
Francisco Calheiros é considerado por muitos como um dos grandes poetas que Itacoatiara já teve. O escritor nunca perde a oportunidade de revelar seu amor por sua cidade natal, pela sua cultura e pela sua gente.
7. A MORTE
Sua mãe, dona Maria de Nazaré, esteve muito mal no sítio com sintomas de Covid. Francisco, num ato heróico, largou todos os seus compromissos para ir buscá-la. Infelizmente, na estrada, a máscara não foi o suficiente para que pudesse se proteger.
Francisco Calheiros partiu no dia 25 de novembro de 2020, em decorrência de complicações de Covid-19.